O Amarrado.

Toc toc toc...

- Quem é?
- Carteiro. Cartas para senhorita A. Stella.
- Tem ninguém em casa não. Volte mais tarde.
- E a senhora com quem falo, quem é?

(Deixe seu recado após o bip: biiiiiiiiiiip)

Silêncio. O carteiro fica sem entender e, por uns instantes, tenta espiar pela fresta da janela. Pensa confuso, tentando descobrir com quem estivera falando. 'Será coisa da minha cabeça?' Após a mensagem eletrônica e o toque do bip, ele se mantem mudo, vira as costas e segue entregando correspondências pela vizinhança.

Após mais um dia entregando correspondências, o carteiro retorna ao lar com um amarrado de cartas daquela casa que o atendera estranhamente. Por muitas vezes, teve vontade de abrir as cartas. Em todas as vezes, se conteve. Sentia-se como quem assalta um banco e rouba tudo que há de valor no cofre. Deixou o amarrado em cima da mesinha de centro da sala e foi até a cozinha preparar um café.

Esta noite, entre goles de café, o carteiro pensava como faria para entregar aquele amarrado de cartas que não lhe pertencia. "Vou lá e deixar no pé da porta!" - pensava por hora, decidido. "Mas se algum transeunte lhe rouba as correspondências? A culpa será minha que deixei lá!" - a dúvida o atormentara. Esvaziado o bule, ele lutava contra seus próprios pensamentos afim de obter uma solução para aquele aparente problema. Acabara por dormir, no sofá de dois lugares, escorado por uma almofada.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poetas do Precipício.

Refúgio.