Poetas do Precipício.

Junto com todas as palavras que trocamos, foi-se os poemas que te escrevi. Tão sinceros quanto a agonia de não mais te ver. Cada palavra sussurrada perdeu-se ao vento. Não restaram sequer lamentos, nenhum timbre qualquer da sua voz. Já não me lembro mais da cor dos seus olhos. Seu rosto eu nunca vi. Seu nome eu nunca soube. Nem sonhos, nem pesadelos. Você foi o que não é e nunca será.
O calor lhe fazia suar as mãos, mesmo estagnadas sobre o ventre. Cada fio de vento que cismava em brincar nos teus cabelos era quase um motivo pra sorrir. O Sol gritava impiedoso por mais um tempo no céu, enquanto a gravidade reclamava seus excessos. A Lua vinha tímida, esperando ser modelo para algum telescópio, ou simplesmente as lentes de um fotógrafo qualquer. Importava-se em posar, não interessava a quem. Com tantos sonhadores ao relento, sentia-se mais estrela que os próprios pontos no céu a brilhar.
Não se deu conta do tempo que escorria depressa e o dia logo se pôs a raiar. Os primeiros registros daquela luz amarelada surgia atrás das construções montanhosas, inertes e indiferentes ao seu calor. Uma imensa ogiva de fogo subia rapidamente à imensidão azul de Verão.
Tanta luz que ninguém lembrava mais da Lua. Ninguém reparou quando jogou-se, pálida e incerta, no infinito do mar. Desceu rápida e solitária, sem saber se ainda haveria a chance de voltar.

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