Uma Viagem ao Oeste da Grécia Antiga.

A noite foi bem quente. Os corpos agitados transpiravam algo muito diferente das impurezas orgânicas. Era transcendente, contagiante. Apaixonante. Nada era estático. Os corações pulsavam como se quisessem conhecer outros corpos, peitos, corações.
O sangue, ainda que violado pelas sucessivas doses de adrenalina e aplicações orais etílicas, fazia tudo se mover com tamanha fluidez que a matéria era quase dispensável naquele momento.
A vida vibrava de acordo com as batidas do som. Me sentia marionete de alguém que operava com muita maestria as transformações sonoras que percorriam meu corpo. Eu deixava. Gostava. Aprendi a deixar de comandar para ser comandado. Meu corpo foi de encontro a outros corpos, vigorosos, sedentos por vibrações. Até que encontrei um que se encaixou perfeitamente ao meu. A troca ocorria no passar das horas. As vibrações combinavam, fluíam de um corpo ao outro. A sintonia foi tanta que não percebíamos a Lua se despedir, o Sol se apresentar. O dia raiou devagar. Aquele corpo, além do meu, ainda estava comigo. Estávamos estirados, trapos de roupas para todos os lados. Mas estávamos ali, cúmplices de tudo o que aconteceu. A Lua, agora escondida, sabia de tudo. O Sol, a mostrar seu melhor show, ofuscava toda forma fútil, inútil, ao nosso redor. Era só eu e você agora. Brilhante, reluzente, sentia-se na obrigação de aquecer nossa matéria vívida, estática, misturada às cobertas e travesseiros.
O relógio era o nosso mentor. Dizia a todo tempo o pouco tempo e o muito que podíamos fazer. Sem muito pensar, inflei o peito de coragem e alegria e deixei que as pulsações me guiassem. Fui pra onde o seu coração repousaria. Agradecida pela minha companhia, permitiu que o meu repousasse também. Parecia Domingo, mas era um feriado. Tão preguiçoso quanto, tão bem aproveitado como uma Sexta à noite. Mas ainda era Terça.
A despedida sempre é um ato de separar corpos e matérias. Tão infeliz quanto a alegria de lembrar, saudosamente, de tudo que aconteceu naquela noite de Lua cheia.
Felicidade é, de fato, aquilo que você escolhe ser, o lugar que você escolhe ficar, o outro que te acompanhará nas suas melhores ideias, ainda que, de certa forma, um tanto insana, mas convincente o suficiente pra te fazer aceitar e não se arrepender da escolha.

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