O Aborto de Uma Nova Era.
O fim do mundo aconteceu e não foi preciso morrer para estar presente nessa data tão especial.
Os acontecimentos não chocam mais.
É uma dormência tão intensa que mal saio da cadeira pra comer. As horas, por vezes, passam devagar. Outrora, passam que nem vejo. Mas prevejo meu fim. É triste, frio e solitário. Como quem vaga sobre a neve, ausente de suas vestes principais.
Aos seres ainda dotados de pulsação e tensões nervosas, o calor maltrata sem fim. É tanta luz, tanto brilho, que ninguém mais vê o outro. Nem ao menos se vê. Olhos que miram, tensionados, cansados e maltrapilhos, o que ainda não se pode ver. Ansiosos pelo que ainda não se tem, se perdem em devaneios desesperados para chegar em algum lugar, sem ao menos saber que lugar é esse. Sem ao menos, um rumo traçar. As coisas tornam-se inúteis em minutos. Pessoas se tornam fúteis a cada compra angustiada por não saber por que comprar. Amizade, agora, é palavra significativa que define o que o outro te oferece e beneficia, mas nunca ao contrario. Recíproco é palavra excluída do dicionário. Ordens da nova lei ortográfica. Estudar e conhecer tornou-se banal e fora de linha. Corretores automáticos escrevem por nós. Proibiram conhecer o outro, se não for por uma rede social. Extingue-se as conversas de horas à beira mar, se não for em grupo de bate papo online.
Minha vida foi contada pelo numero de dígitos em cada texto que li e escrevi, mas ninguém se importou em saber quem sou. Virei mais um no meio de um milhão. Mas posso virar alguém, se eu virar viral.
Nasci na última década que diziam ''não termos nada de legal pra fazer''. Vi a tecnologia avançar com tanta rapidez que nem cronômetros puderam marcar. Vi as brincadeiras de infância, da minha infância, virarem relatos nostálgicos e banais. Vi o choro representado em um emoticon. Vejo meu fim sendo perturbado em relatos incoerentes, falsos e sem sentimentos deflagrados compulsivamente em redes sociais.
No meu enterro, ninguém irá. Mas deixarei uma foto pra vocês compartilharem no Instagran.
Os acontecimentos não chocam mais.
É uma dormência tão intensa que mal saio da cadeira pra comer. As horas, por vezes, passam devagar. Outrora, passam que nem vejo. Mas prevejo meu fim. É triste, frio e solitário. Como quem vaga sobre a neve, ausente de suas vestes principais.
Aos seres ainda dotados de pulsação e tensões nervosas, o calor maltrata sem fim. É tanta luz, tanto brilho, que ninguém mais vê o outro. Nem ao menos se vê. Olhos que miram, tensionados, cansados e maltrapilhos, o que ainda não se pode ver. Ansiosos pelo que ainda não se tem, se perdem em devaneios desesperados para chegar em algum lugar, sem ao menos saber que lugar é esse. Sem ao menos, um rumo traçar. As coisas tornam-se inúteis em minutos. Pessoas se tornam fúteis a cada compra angustiada por não saber por que comprar. Amizade, agora, é palavra significativa que define o que o outro te oferece e beneficia, mas nunca ao contrario. Recíproco é palavra excluída do dicionário. Ordens da nova lei ortográfica. Estudar e conhecer tornou-se banal e fora de linha. Corretores automáticos escrevem por nós. Proibiram conhecer o outro, se não for por uma rede social. Extingue-se as conversas de horas à beira mar, se não for em grupo de bate papo online.
Minha vida foi contada pelo numero de dígitos em cada texto que li e escrevi, mas ninguém se importou em saber quem sou. Virei mais um no meio de um milhão. Mas posso virar alguém, se eu virar viral.
Nasci na última década que diziam ''não termos nada de legal pra fazer''. Vi a tecnologia avançar com tanta rapidez que nem cronômetros puderam marcar. Vi as brincadeiras de infância, da minha infância, virarem relatos nostálgicos e banais. Vi o choro representado em um emoticon. Vejo meu fim sendo perturbado em relatos incoerentes, falsos e sem sentimentos deflagrados compulsivamente em redes sociais.
No meu enterro, ninguém irá. Mas deixarei uma foto pra vocês compartilharem no Instagran.
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