O Estranho Tempo Das Flores.

     Não me lembro bem quando foi que te conheci. Mas nunca esqueci aquela flor singela, de sorriso leve perto de outras flores que simpatizava. Volta e meia, eu me perguntava em que momento você apareceu na minha história, assim, sem pedir licença. Surgiu de forma tão serena que nem passou pela minha cabeça impedir tal invasão. Na verdade, acho que recuei e permiti.
     Dias e noites passaram tão depressa e tantas outras poesias surgiram em minha vida que não me dei conta que ainda não sabia nada de você. De que adianta conhecer tantas flores nesse campo infinito se aquela que surgiu uma vez ou outra, eu não sabia o nome, não conhecia o perfume, não sabia das canções que gostava. De violão em mãos, toquei uma canção. Mas o som não saiu. Violões sem corda não tocam, almas violadas não amam.
     Foi quando percebi seu coração palpitar devagar, naquela manhã ensolarada, lá em cima do monte, cansada do peso que carregava sem saber porque. Na espontânea vontade de querer ajudar, peguei todo o peso, convenci que era forte o bastante, que eu podia carregar. Cansado, percebi de fato, que tinha escolhido o peso errado pra você aliviar. Na ansiosa dúvida por descobrir que fardo era esse que por ti eu queria suportar, não soube o que falar. Eu ainda me arrastava, aguentando a carga excessiva sobre os ombros. As pernas tremiam, mas fingi estar bem toda vez que me perguntava. Não permiti que levasse tantas incertezas sozinha, queria contigo caminhar.
     Quando tive coragem pra me aproximar o suficiente, deixando as dúvidas menos secretas, o tempo resolveu adiar tudo o que eu queria dizer. Dar tempo ao tempo é adiar o que já foi adiado por tantas e tantas vezes. É fugir do risco de perder, da glória de ganhar.
     Depois de um abraço longo, seu coração eu não sentia mais palpitar. Ouvia bem longe, apenas, as batidas leves e tristonhas, magoadas de tantas expectativas em vão.
     Tentei me reaproximar, mas ela disse "melhor não."
     Meu sorriso cabisbaixo e sem graça não foi disfarçado. Também nada se comentou sobre. "me dá um tempo pra eu pensar, eu preciso de um tempo." Foi tanto tempo pedido, que cheguei a suspeitar que era tempo suficiente para me esquecer, para esquece-la, para a flor desabrochar, para o sentimento murchar.
     O tempo tem um jeito estranho de cuidar dos sentimentos.
     Enquanto o tempo passa, longe da flor minha vida fica sem graça. A cada momento, pareço descreditar mais, sentir menos.

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