Diário De Um Suicida.

Os dias passam depressa. Tão rápido quanto a capacidade de pensar em mil coisas em tão pouco tempo. É tanta coisa a ser pensada que não há raciocínio sobre nenhuma delas. Tornam-se pensamentos vagos, ideias descabidas, fluxo cerebral desconexo.
Daqui de cima, vejo as pessoas indo e vindo, de forma aparentemente desordenada, mas com ponto de partida e ponto de chegada definidos. Andam apressadas entre tantos, sem se comunicar. Sem troca de olhares. Por um momento, parecem as formigas que caminham em volta dos meus pés. A diferença é que as formigas se esbarram, se comunicam. Trocam informações. Nem que seja por alguns segundos.
O vento que refresca meu rosto também seca as lágrimas ainda contidas. Na ponta dos pés, evitando as formigas, a brisa balança meu corpo devagar. Olhando pra frente, vejo pássaros a voar. Tento olha-los nos olhos, mas estão ocupados demais flutuando no ar, de asas abertas. Livres. Parecem não sem importarem com a minha presença aqui no alto. Tão alto quanto os pássaros que sobrevoam o prédio velho, cinza e triste que encontrei perdido num lugar qualquer.
Quando criança, sonhava ser um super herói que voava. Meus pais nunca deixaram. Anos depois, me encontro aqui em cima, com a mesma vontade de voar da infância. As formigas ergueram meus pés do parapeito. Os pássaros abriram meus braços. Naquele momento, alguém acreditou que eu poderia voar.
Esse alguém fui eu.
Fechei os olhos e deixei o vento me levar.
Nunca mais pousei no jardim de entrada daquele prédio.

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